Por Alex Pereira, CEO & Fundador da EccoValue
Vivemos a era do "tudo é digital". Bancos viram aplicativos, seguradoras se transformam em plataformas, e até o varejo se reinventa com algoritmos. Mas em meio a tantas promessas, muitas empresas esquecem que a tecnologia de ponta precisa de uma base sólida. Sua empresa pode ter IA, APIs e superapps, mas se a base continuar frágil, cada avanço será um risco invisível. É como construir um arranha-céu sobre um terreno instável. A fachada pode impressionar, mas o risco de colapso é constante. Inovação real não é sobre adotar IA, é sobre garantir que sua infraestrutura esteja preparada para sustentá-la.
Por exemplo, você contrata um novo sistema de CRM baseado em nuvem. Integra uma API de pagamentos com IA antifraude. Lança um novo app com reconhecimento facial. Mas, nos bastidores, seu data center ainda depende de processos manuais, regras de firewall mal documentadas, e alertas que ninguém mais lê. É como colocar motor de Fórmula 1 num carro de 1995: a performance prometida nunca se realiza. Empresas que escalam tecnologia em múltiplas frentes, mesmo com estrutura moderna, precisam revisar constantemente como suas fundações técnicas reagem à complexidade operacional.
Essas falhas não gritam, elas sussurram até virar crise. O impacto da infraestrutura deficiente pode ser sentido de forma sutil, mas seus efeitos se acumulam com o tempo:
- Um deploy fora de hora causa lentidão intermitente, minando a confiança do usuário;
- O alerta que deveria prever a queda de serviço falha em disparar, prolongando incidentes;
- O backup não foi executado há 4 dias e ninguém percebeu, comprometendo a continuidade do negócio;
- A equipe técnica gasta 60% do tempo resolvendo incidentes em vez de inovando, limitando o avanço estratégico da organização;
- O compliance sofre com atrasos na atualização de segurança e documentação.
Esses pequenos desgastes vão corroendo a credibilidade, travando o crescimento e deixando a operação vulnerável. Esse é o custo oculto da "inovação sem infraestrutura": retrabalho, estresse, falhas silenciosas e perda de confiança dos usuários - internos e externos.
Segundo o relatório “Internet Crime Report 2024” do FBI, nos Estados Unidos:
- Foram registradas 859.532 denúncias de crimes cibernéticos em 2023, com perdas totais de US$ 12,5 bilhões;
- Em 2024, esse número saltou para US$ 16,6 bilhões - um aumento de 33%;
- Nos últimos 5 anos, o volume de perdas com crimes cibernéticos praticamente quadruplicou, passando de US$ 4,2 Bilhões em 2020 para US$ 16,6 Bilhões em 2024;
- O ransomware é destaque, com 3.156 ataques contra infraestruturas críticas, como finanças, saúde e energia.
O mais alarmante: 76% dos ataques de ransomware bem-sucedidos exploraram falhas em infraestrutura obsoleta ou mal configurada, segundo o relatório “Global Threat Intelligence” da Palo Alto Networks (Unit 42, 2024). Isso inclui servidores sem patch, autenticação fraca e visibilidade limitada sobre ambientes híbridos. Ou seja, infraestrutura desatualizada não só limita performance, ela abre portas para ameaças existenciais. A falsa sensação de que “está tudo funcionando” é o prenúncio da próxima falha. A zona de conforto técnica é, na verdade, uma zona de risco crescente.
Para que a modernização seja completa e sustentável, é essencial que a atualização tecnológica dos ativos de TI seja tratada como pilar estratégico. Manter a infraestrutura atualizada não é apenas uma boa prática, é o que separa empresas resilientes de organizações vulneráveis. A evolução não acontece por impulso tecnológico, mas pela maturidade de manter a base compatível com a ambição de crescimento. Modernizar não significa jogar tudo fora. Significa adicionar camadas inteligentes que potencializam sua estrutura atual:
- Agentes cognitivos que monitoram padrões, aprendem com anomalias e tomam ações preventivas;
- Infraestrutura com observabilidade inteligente, capaz de prever falhas antes que aconteçam;
- Autonomia operacional com decisões automatizadas e contexto-aware - um salto em eficiência.
Mas também significa tratar a atualização dos ativos de TI como um processo contínuo e estratégico. Manter versões atualizadas de sistemas operacionais, firmwares, agentes de segurança e plataformas de virtualização não é mais uma tarefa de manutenção, é um diferencial competitivo. Ambientes que não recebem atualizações regulares se tornam alvos naturais de ataques, apresentam incompatibilidades com novas ferramentas e sofrem com perda de desempenho.
Atualizar é mais do que instalar patches. É alinhar os ativos de tecnologia ao nível de maturidade que a inovação exige. E isso exige visão, método e priorização correta.
A infraestrutura que sustenta sua inovação precisa ser tão inteligente quanto ela. Isso não se faz com scripts isolados ou promessas de software. Se faz com visão, estratégia e execução técnica profunda. Se a inovação da sua empresa é visível, mas sua infraestrutura ainda opera no escuro, está na hora de acender a luz. Sua infraestrutura pensa, aprende e age - ou apenas reage?
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Alex S. Pereira |
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