O risco genético por trás dos antidepressivos e a ascensão das terapias psicodélicas

 Cientistas apontam possíveis danos genéticos associados ao uso prolongado de antidepressivos e destacam as terapias psicodélicas como alternativa promissora e menos onerosa aos sistemas de saúde.



A depressão continua sendo uma das doenças mais desafiadoras da saúde pública mundial. Em 2025, mais de 1 bilhão de pessoas vivem com algum transtorno mental, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nos Estados Unidos, cerca de 11% dos adultos relatam sintomas depressivos, e aproximadamente 10% fazem uso regular de antidepressivos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
No Brasil, o consumo de medicamentos voltados à saúde mental cresceu 18,6% entre 2022 e 2024, segundo o Conselho Federal de Farmácia, sendo 74% deles antidepressivos.

Embora esses fármacos sejam amplamente prescritos e eficazes para muitos pacientes, estudos recentes começam a levantar dúvidas sobre seus efeitos genéticos a longo prazo. O psiquiatra e pesquisador Dr. Lucas Cury alerta que “alguns estudos sugerem uma potencial associação entre o uso de antidepressivos e danos ao DNA”.

Segundo ele, a exposição prolongada a essas substâncias pode sobrecarregar os mecanismos naturais de reparo genético, sobretudo quando combinada a fatores ambientais como estresse crônico e hábitos de vida inadequados. “A exposição contínua a medicamentos pode causar danos ao DNA, e esse acúmulo de lesões pode contribuir para doenças degenerativas, incluindo o câncer, ou resultar em apoptose celular”, afirma o médico.

A literatura científica começa a associar certos antidepressivos – especialmente os inibidores seletivos de recaptação de serotonina e noradrenalina – a potenciais efeitos mutagênicos. Uma revisão publicada em 2024 mostrou que quase 80% dos estudos analisados apresentaram sinais de genotoxicidade relacionados a esse tipo de fármaco.

Apesar disso, Cury reforça que há uma “lacuna de conhecimento sobre o grau exato de risco genético”, o que torna urgente a ampliação das pesquisas clínicas. “Compreender o potencial genotóxico dos antidepressivos pode informar práticas de prescrição e guiar o desenvolvimento de alternativas mais seguras, especialmente em tratamentos prolongados”, explica.

A preocupação com o impacto genético ganha força em um contexto de aumento global de transtornos neuroatípicos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 2,4 milhões de brasileiros tenham diagnóstico de autismo – 1,2% da população. Nos EUA, o CDC aponta uma prevalência de 1 em cada 31 crianças, reforçando uma tendência mundial de crescimento nos diagnósticos.

Psicodélicos ganham espaço na medicina

Enquanto cresce o debate sobre os riscos dos antidepressivos, os psicodélicos ressurgem como alternativa promissora no tratamento da depressão. Um estudo publicado em 2024 na revista The Lancet comparou o uso da psilocibina, substância presente em alguns fungos, ao escitalopram, um antidepressivo tradicional.

O ensaio clínico, conduzido com pacientes com depressão moderada a grave, concluiu que ambos os tratamentos tiveram eficácia semelhante após seis meses. No entanto, o grupo que recebeu psilocibina relatou melhoras mais amplas em aspectos como bem-estar, conexão interpessoal e sentido de vida.

Segundo Cury, “a combinação de psicodélicos e psicoterapia representa uma modalidade transformadora, que une mecanismos neurobiológicos e psicossociais, com menor risco de iatrogenia e danos futuros ao DNA”. Além dos ganhos clínicos, o médico ressalta que esse tipo de tratamento tende a ser mais econômico: “As terapias psicodélicas podem ser menos custosas aos serviços públicos, pois reduzem a carga medicamentosa e favorecem o retorno do paciente à vida civil e laboral”.

De fato, análises econômicas internacionais estimam que a terapia assistida por psicodélicos pode reduzir em até 50% os custos clínicos em comparação com o tratamento farmacológico convencional. Em larga escala, a economia para os sistemas de saúde pode chegar a bilhões de dólares ao longo de uma década.

O interesse por esse tipo de terapia já se reflete no mercado global. O setor de terapias psicodélicas movimenta atualmente cerca de US$ 2,9 bilhões, com projeção de crescimento anual de 15% até 2034. Embora ainda muito menor que a indústria farmacêutica tradicional – estimada em US$ 1,7 trilhão – o segmento cresce em ritmo acelerado e desperta o interesse de centros de pesquisa e investidores.

Apesar do entusiasmo, o Dr. Cury reforça a necessidade de cautela científica. “Não se trata de substituir um tratamento por outro, mas de compreender seus mecanismos e implicações. O avanço precisa ocorrer com base em evidências robustas, garantindo segurança e eficácia para os pacientes”, afirma.

Os antidepressivos continuam sendo uma ferramenta terapêutica essencial, mas seu uso prolongado levanta novos desafios à medicina moderna. Os achados sobre genotoxicidade, somados ao crescimento do interesse pelos psicodélicos, indicam um momento de transição no campo da psiquiatria.

Para Cury, o futuro passa por uma abordagem integrativa. “Entender o potencial genotóxico dos antidepressivos não significa demonizar medicamentos úteis, mas orientar práticas de prescrição mais seguras e estimular alternativas terapêuticas mais saudáveis para a saúde pública”, conclui.

 


Sobre o Dr. Lucas Cury


Médico pós-graduado em neurologia, o Dr. Lucas Cury é especialista no uso da cannabis medicinal como ferramenta terapêutica para diversas condições neurológicas. Com foco em ciência, segurança e personalização do tratamento, atua na melhoria da qualidade de vida de seus pacientes por meio de uma abordagem que alia tecnologia, pesquisa e atendimento humanizado. Sua experiência clínica abrange o cuidado de doenças como epilepsia, dor neuropática, Parkinson, Alzheimer, esclerose múltipla, autismo e distúrbios do sono.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem