A Comissão de Educação da Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública para debater a inclusão nas escolas católicas. O encontro contou com a participação da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), que apresentou os resultados de uma ampla pesquisa sobre o tema, intitulada “Inclusão nas Escolas Católicas”.
O estudo, elaborado a partir de uma amostra de 517 instituições associadas à ANEC — o que representa 57,38% do total — traça um retrato atualizado da educação inclusiva em 2025, abordando práticas pedagógicas, investimentos financeiros, formação profissional, estruturas de apoio e principais desafios enfrentados pelas escolas católicas do país.
O Padre Sérgio Mariucci, presidente do Conselho Superior da ANEC, destacou a importância da presença da entidade no Parlamento. Segundo ele, “a educação inclusiva sempre esteve presente nas escolas católicas e em toda discussão de uma legislação que seja justa para atender as crianças, os alunos neurodivergentes e todas as necessidades especiais”.
“Queremos construir consensos para aprimorar o atendimento às pessoas com deficiência, tanto na rede pública quanto na confessional”, declarou.
A presidente da ANEC, Irmã Iraní Rupolo, também reforçou que a inclusão já é uma realidade consolidada nas escolas católicas e se estende da educação infantil ao ensino superior. “Seguimos o chamado do Papa Francisco no Pacto Educativo Global e o ensinamento de Papa Leão XIV: acolher a todos, sem distinção, à semelhança de Jesus”, disse.
Ao presidir a audiência, a deputada Juliana Cardoso (PT-SP), elogiou o papel da Igreja Católica na educação, mas alertou para os limites orçamentários. “a inclusão não está, infelizmente, subsidiada o suficiente e nem na relação orçamentária para a gente poder conseguir fazer um atendimento mais pleno. Precisamos de políticas efetivas, construídas com quem faz a educação acontecer”, declarou.
Os dados da pesquisa foram apresentados pela Irmã Marisa Oliveira de Aquino, diretora do Colégio Nossa Senhora do Sagrado Coração e 2ª diretora-secretária da ANEC. Ela defendeu que a inclusão “deve promover uma sociedade mais solidária”. “É preciso acolher melhor as crianças em todas as etapas da educação básica e pensar também no ensino superior, para onde esses alunos estão chegando”, disse.
Inclusão e o amparo aos professores
Dados do estudo apontam que 95% das instituições oferecem palestras ou formações para capacitar os profissionais em práticas de inclusão. E, em relação ao investimento na qualificação docente, 64% investem acima de R$ 2 mil por ano, 35% até R$ 5 mil e 23% entre R$ 15 mil e R$ 20 mil; 55% dos profissionais do AEE recebem acima de R$ 3
Durante a audiência pública, Roberta Guedes, superintendente da União Brasileira de Educação Católica (UBEC), que também foi responsável pela organização da pesqiusa, fez um forte apelo por melhores condições de trabalho e valorização dos docentes, destacando que discutir inclusão é, antes de tudo, falar sobre os professores.
“Falar de inclusão é falar de professores, e eu não estou entrando no aspecto de rede pública ou privada — estou falando de educadores que estão lá no chão da sala de aula, muitas vezes sem condições mínimas de trabalho e de docência”, afirmou.
Roberta defendeu que a legislação garanta formação continuada, tempo de planejamento e equipes multiprofissionais transdisciplinares, de modo que o educador não caminhe sozinho. Para ela, tanto a educação básica quanto o ensino superior precisam ser contemplados em políticas práticas, reais e concretas, construídas com a participação de quem vive a realidade escolar: professores, famílias e estudantes com necessidades específicas.
“É hora de pensar de forma concreta o que precisamos efetivar como visão, política e ação, com legislação que acompanhe o chão da escola. Que não sejam apenas letras, mas ações reais de empoderamento e participação social”, concluiu.
Na mesma linha, Flavia Mentges, representante do Colégio Salesiano Dom Bosco, de Porto Alegre, alertou para a crescente sobrecarga emocional dos professores diante do aumento de matrículas de alunos com deficiência e da falta de estrutura para atendê-los adequadamente.
“Os números mostram um crescimento contínuo das matrículas, o que amplia nossos desafios pedagógicos e de gestão. Esse cenário tem gerado uma grande incidência de insalubridade entre os professores, por conta da saúde mental — um aspecto que também precisamos defender”, destacou.
Segundo Flávia, a pressão por garantir educação de qualidade e equidade, sem os recursos e o apoio necessários, tem levado muitos educadores a desenvolverem doenças emocionais. Ela enfatizou que o cuidado com o educador deve ser parte essencial das políticas de inclusão.
“A pressão sobre o professor, que quer garantir uma educação justa, mas não tem condição para isso, tem causado adoecimento. A educação privada católica está disposta a colaborar com políticas públicas que promovam uma inclusão de fato, e não apenas no discurso”, afirmou.
Com a audiência, a ANEC reforça sua atuação como voz ativa na formulação de políticas educacionais e sua missão de defender o direito à educação de qualidade e acessível a todos.
O estudo apresentado revela avanços significativos, mas também a urgência de políticas públicas, investimentos e apoio institucional para que a educação inclusiva nas escolas católicas continue sendo exemplo de acolhimento e compromisso com a dignidade humana.
