Exploração sexual e tráfico de mulheres, adolescentes e crianças fazem milhares de vítimas por ano no Brasil
Setembro, 2025 — O tráfico de pessoas para fins de exploração sexual permanece como uma das mais graves e persistentes violações dos direitos humanos, tanto no Brasil quanto no cenário internacional. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), mulheres e meninas representam cerca de 65% das vítimas, e em mais de 90% dos casos de exploração sexual as vítimas são do sexo feminino.
Crianças e adolescentes estão entre os grupos mais expostos. No Brasil, somente entre 2021 e 2023, foram registrados 164.199 casos de violência sexual contra menores de idade, segundo o relatório Panorama da Violência Letal e Sexual contra Crianças e Adolescentes no Brasil, elaborado pelo UNICEF em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O documento revela não apenas a dimensão do problema, mas também o perfil predominante das vítimas, majoritariamente meninas.
No caso das mulheres, a violência de gênero continua em níveis alarmantes. Em 2024, foram registrados 71.892 estupros no país — uma média de 196 casos por dia — conforme o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (RASEAM).
O crescimento desses crimes é ainda mais evidente nos canais de denúncia. O Disque 100, serviço nacional de atendimento a violações de direitos humanos, registrou um salto de 6.380 denúncias em 2020 para 18.826 em 2024, aumento de 195% em apenas quatro anos. Diante desse cenário, especialistas reforçam que a expansão da exploração sexual e do tráfico de pessoas exige respostas urgentes e integradas das autoridades, da sociedade civil e de organismos internacionais. O enfrentamento passa pelo fortalecimento das políticas públicas de proteção, pela educação em direitos humanos e por medidas eficazes de prevenção e acolhimento das vítimas.
Regiões mais vulneráveis, como o Nordeste, lideram os registros de pontos mapeados para exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias federais. No biênio 2023-2024, mais de 17 mil locais foram identificados como suscetíveis a tais crimes, entre rodovias federais.
Entre os obstáculos para enfrentar a exploração sexual e o tráfico de pessoas estão a subnotificação, barrancos geográficos (áreas rurais ou remotas com pouca presença do Estado), desigualdade social, pobreza, e falhas nos mecanismos de prevenção, denúncia, investigação, responsabilização e apoio às vítimas. Além disso, existe uma lacuna na internet e em plataformas digitais, que são cada vez mais usadas para aliciamento, compartilhamento de material de abuso infantil ou para veicular ofertas fraudulentas que levam ao tráfico.
Segundo Rayla Santos, docente e coordenadora do curso de Direito do Centro Universitário Afya Itaperuna, é preciso pensar o combate não apenas como repressão, mas como uma política integrada. “O combate à exploração sexual e ao tráfico de mulheres e crianças, sobretudo com finalidade sexual, não pode se limitar à repressão. Trata-se de um fenômeno complexo que exige uma política pública integrada, unindo forças entre Estado, Judiciário, polícia e sociedade civil. A lei penal é severa, mas, na prática, ainda enfrentamos obstáculos como a demora nas apurações, a revitimização das vítimas e a impunidade dos aliciadores”.
Outro ponto destacado pela profissional como fundamental é a capacitação especializada de operadores do direito, a exemplo de promotores, defensores, magistrados e policiais. Segundo a especialista, eles precisam compreender a complexidade do crime, que raramente se configura apenas como uma transgressão penal isolada, mas frequentemente como um conjunto de violações interrelacionadas: exploração sexual, violência doméstica, trabalho forçado, e até migração irregular.
“Embora a lei penal brasileira seja rigorosa no papel, a prática revela desafios que fragilizam a proteção das vítimas. A demora nas apurações, a revitimização nos trâmites judiciais e a impunidade dos aliciadores são obstáculos que precisam ser enfrentados com urgência. A legislação, por si só, não transforma a realidade; é necessário garantir sua efetividade com processos mais céleres, humanizados e comprometidos com a justiça social. Só assim poderemos assegurar de fato os direitos das vítimas, incluindo reparação, acolhimento psicológico e reinserção social”,destaca Dra. Rayla.
A exploração sexual e o tráfico de mulheres e crianças seguem como realidades concretas no Brasil, atravessando diferentes camadas sociais e resistindo apesar da existência de leis, tratados internacionais e iniciativas diversas; sem articulação integrada, recursos consistentes e comprometimento institucional contínuo, o cenário tende a se agravar.
Para a profissional, o papel desempenhado pela sociedade também é fundamental dentro deste cenário complexo. Nesse sentido, ela reforça a necessidade de falar sobre responsabilidade coletiva. “O tráfico e a exploração sexual não sobrevivem sem demanda. Isso significa que a mudança envolve questionar comportamentos, combater a cultura que normaliza a objetificação do corpo feminino e investir em campanhas que desconstruam estereótipos. O enfrentamento exige coragem, mas sobretudo exige empatia e compromisso com a dignidade de todas as pessoas”, conclui Dra Rayla.
Como denunciar
Para denunciar casos de exploração sexual e tráfico de mulheres, crianças e adolescentes no Brasil, há diversos canais oficiais disponíveis. O principal é o Disque 100 – Disque Direitos Humanos, que recebe relatos de violações de direitos humanos, incluindo violência e exploração sexual. A denúncia também pode ser feita pelo aplicativo “Direitos Humanos Brasil”, disponível para Android e iOS, que permite encaminhar informações tanto ao Disque 100 quanto ao Ligue 180, central de atendimento à mulher.
Outras opções são o site da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos(gov.br/mdh/disque100), onde também funciona um chat on-line em tempo real, e o envio de relatos por e-mail(ouvidoria@mdh.gov.br). Há ainda a possibilidade de contato direto pelo WhatsApp oficial do Disque 100: (61) 99656-5008. Nos casos que envolvem exploração sexual ou tráfico de crianças e adolescentes em ambiente digital, recomenda-se utilizar a plataforma da SaferNet Brasil (safernet.org.br/denuncie).
Sobre a Afya
A Afya, maior hub de educação e tecnologia para a prática médica no Brasil, reúne 38 Instituições de Ensino Superior em todas as regiões do país, 33 delas com cursos de medicina, e 25 unidades promovendo pós-graduação e educação continuada em áreas médicas e de saúde. São 3.653 vagas de medicina autorizadas pelo Ministério da Educação (MEC), com mais de 23 mil alunos formados nos últimos 25 anos. Pioneira em práticas digitais para aprendizagem contínua e suporte ao exercício da medicina, 1 a cada 3 médicos e estudantes de medicina no país utiliza ao menos uma solução digital do portfólio, como Afya Whitebook, Afya iClinic e Afya Papers. Primeira empresa de educação médica a abrir capital na Nasdaq em 2019, a Afya recebeu prêmios do jornal Valor Econômico, incluindo "Valor Inovação" (2023) como a mais inovadora do Brasil, e "Valor 1000" (2021, 2023 e 2024) como a melhor empresa de educação. Virgílio Gibbon, CEO da Afya, foi reconhecido como o melhor CEO na área de Educação pelo prêmio "Executivo de Valor" (2023). Em 2024, a empresa passou a integrar o programa “Liderança com ImPacto”, do pacto Global da ONU no Brasil, como porta-voz da ODS 3 - Saúde e Bem-Estar. Mais informações em http://www.afya.com.br e ir.afya.com.br.