São esperados, até o final ano, mais de 71 mil novos casos da doença que já vitimou mais de 2.500 brasileiros de janeiro a agosto, de acordo com dados do DataSUS
O câncer de próstata continua sendo um desafio para a saúde pública. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa é que surjam mais de 71 mil novos casos até o final deste ano¹. A urgência da prevenção é reforçada pelos dados recentes do DataSUS², que apontam 2.575 mortes por causa da doença entre janeiro e agosto de 2025, um aumento de 6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo Natalia Sabaneeff, radiologista especialista em imagem oncológica da clínica CDPI, da Dasa, o diagnóstico precoce pode contribuir para reverter esse cenário, já que a cura pode atingir quase 98% dos casos iniciais. Nesse contexto, a conversa franca com o urologista se torna um ato corajoso de cuidado.
A seguir, especialistas respondem cinco perguntas essenciais que os homens devem fazer para desmistificar a doença e garantir um acompanhamento eficaz.
- Quando devo começar, de fato, o rastreamento?
Embora a recomendação geral da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) seja iniciar o rastreamento aos 50 anos, este é um ponto de partida individual. Segundo Rosita Fontes, endocrinologista dos laboratórios Sérgio Franco e Bronstein, da Dasa, no Rio de Janeiro, homens com fatores de risco, como histórico familiar (pai ou irmão com câncer de próstata antes dos 60 anos) ou pertencentes à raça negra, devem começar o acompanhamento mais cedo, geralmente, aos 45 anos.
- Qual a melhor forma de detectar o câncer de próstata?
Natalia Sabaneeff, explica que a detecção desse tipo de carcinoma em estágio inicial ocorre por meio do rastreamento periódico, que não se limita a um único exame, mas, sim, à avaliação conjunta do Antígeno Prostático Específico (PSA) no sangue, do toque retal (para identificar nódulos ou alterações na consistência da glândula) e da ressonância magnética multiparamétrica, indicada para casos de maior risco.
Contudo, é fundamental entender que o diagnóstico definitivo exige uma biópsia da próstata, que é o passo final para confirmar a malignidade das células.
“Atualmente, a recomendação é utilizar a ressonância magnética para um diagnóstico mais preciso do câncer. Solicitar o exame de imagem é importante quando há fatores de risco, elevação do PSA ou alguma alteração no toque retal. O método de imagem permite identificar com mais precisão lesões suspeitas ou tumores agressivos e, principalmente, evita biópsias desnecessárias”, afirma Sabaneeff.
- O diagnóstico foi confirmado, e agora?
O câncer de próstata possui diferentes velocidades de crescimento e nem todas exigem pressa. Muitos tumores são de evolução lenta e, em alguns casos, o médico pode sugerir a vigilância ativa em vez de cirurgia ou radioterapia imediata, como explica Natalia.
Segundo ela, a estratégia de acompanhamento segue um protocolo de cuidado rigoroso e regular para os casos classificados de baixo risco, ou seja, tumores pequenos e de crescimento muito lento.
“O paciente é acompanhado de perto com exames periódicos de PSA, toque retal e ressonância magnética, com o objetivo de diminuir o risco de complicações e reduzir a ansiedade ao diferenciar tumores indolentes (que podem ser apenas observados) daqueles mais agressivos, que precisam de intervenção imediata. Graças aos novos métodos de imagem, a decisão se torna muito mais segura. Mas é importante questionar o urologista sobre o grau de agressividade do tumor e qual seria a melhor estratégia”, comenta.
- O câncer de próstata é hereditário? É possível saber precocemente se tenho predisposição à doença?
De acordo com o geneticista Gustavo Guida, dos laboratórios Sérgio Franco e Bronstein, somente 10% a 15% dos casos de câncer de próstata estão relacionados com alterações genéticas hereditárias. Existem diversos genes cujas mutações podem aumentar a predisposição ao câncer de próstata, sendo o BRCA2 o mais relevante, já que eleva o risco em até 4 a 8 vezes e, normalmente, está associado a tumores mais agressivos e de crescimento acelerado.
“Ter um parente de primeiro grau (pai ou irmão) com a doença dobra ou triplica o risco de desenvolver o câncer de próstata. O risco é ainda maior se múltiplos familiares foram afetados ou se o diagnóstico ocorreu em idade precoce (antes dos 55 ou 60 anos). Por isso, é importante pensar em uma análise do DNA por meio de exames genéticos, como o Sequenciamento de Nova Geração (NGS), que permite identificar variantes e mutações nos genes relacionados com a doença”, pontua o médico.
- O que o check-up masculino anual deve incluir além dos exames de próstata?
“A saúde do homem é mais que a próstata”, ressalta Rosita Fontes sobre a importância do check-up masculino integral. “É essencial que o homem converse com o médico sobre controle de diabetes, pressão alta, colesterol e avaliações hormonais”, afirma a endocrinologista. O check-up deve ser uma avaliação completa para garantir qualidade de vida, incluindo hemograma, hemoglobina glicada, triglicerídeos e colesterol total e frações (HDL e LDL), ácido úrico, creatinina, testosterona e hepatograma; não apenas o rastreio de um único tumor.”

Referências