Pesquisa analisou mais de 3 mil pacientes brasileiros e mostrou taxa de positividade de 32,7%, revelando que avanços em sequenciamento genético reduzem a "odisseia diagnóstica" das doenças raras, trazendo respostas mais rápidas, acessíveis e precisas para pacientes e médicos
Até o início dos anos 2.000, o diagnóstico de doenças genéticas raras e complexas era uma verdadeira “odisseia”. A confirmação clínica dependia da expertise de poucos especialistas e, muitas vezes, não chegava a uma conclusão. Isso mantinha pacientes e famílias, por anos, sem acesso a respostas concretas.
Nas últimas duas décadas, o avanço do sequenciamento genético de nova geração (NGS) contribuiu para a mudança de cenário, capaz de analisar milhares de genes de forma simultânea e em menor tempo. Dentro dessa revolução, o sequenciamento de exoma tem se destacado por ampliar significativamente o diagnóstico e reduzir o caminho até a resposta.
Para o Dr. Guilherme Yamamoto, geneticista e líder de inovação genômica e bioinformática da Dasa Genômica, trata-se de uma virada de chave: "Antigamente, investigava-se um gene por vez, em exames caros e demorados. Com o NGS e, especialmente, com o exoma, conseguimos analisar milhares de regiões genéticas ao mesmo tempo. Isso transformou radicalmente a prática clínica e o cuidado com o paciente”, afirma.
O sequenciamento do exoma completo, que analisa todas as regiões codificantes do genoma (os éxons de aproximadamente 20.000 genes), se destaca por sua capacidade de identificar uma ampla variedade de variantes associadas a essas condições. Essa abrangência supera as limitações de testes mais específicos, como o sequenciamento Sanger ou NGS de genes únicos ou painéis restritos, oferecendo diagnósticos mais precoces e precisos, orientando tratamentos personalizados e melhorando o prognóstico dos pacientes. Por sua robustez, a análise do exoma é especialmente indicada quando suspeitas clínicas não são resolvidas por métodos tradicionais.
O estudo e seus resultados
Apoiados pela Dasa, especialistas em genética assumiram o pioneirismo de uma iniciativa inédita no Brasil, um estudo que analisou uma amostra de 3.025 pacientes brasileiros e avaliou o impacto real das metodologias de NGS no diagnóstico de doenças raras, que são majoritariamente de origem genética, afetando cerca de 7% da população e apresentando alta heterogeneidade no DNA.
Os resultados gerais do estudo foram:
- Exoma: taxa de positividade de 32,7%, com mais 43,9% de resultados inconclusivos devido a variantes de significado incerto (VUS).
- Painéis multigênicos: positividade de 25% e 29,3% de inconclusivos.
- Gene único: positividade de 23%, com menor proporção de inconclusivos (11%).
“Para condições de etiologia altamente genética, e menor influência por fatores ambientais, como distúrbios esqueléticos ou auditivos, o exoma apresenta positividade acima de 50%. Em casos mais complexos, como síndromes que acometem o neurodesenvolvimento, o exoma continua sendo a melhor escolha, mesmo que com maior número de resultados inconclusivos, pois amplia a chance de encontrar respostas significativas”, afirma.
Conclusões do estudo
- Frequência de solicitação do Sequenciamento de Exoma: o exoma já se tornou o teste mais solicitado, mostrando-se mais custo-efetivo pelo maior rendimento diagnóstico. Entre 2018 e 2020, os painéis genéticos eram mais utilizados. Desde 2021, o exoma assumiu a liderança, representando 55,3% dos testes solicitados naquele ano e 62% em 2023.
- Resultados inconclusivos: o sequenciamento de exoma aumenta a proporção de variantes de significado incerto (VUS), mas esses achados podem representar um avanço importante. Eles refletem a complexidade genética de uma população miscigenada como a brasileira, enriquecem os bancos de dados disponíveis e fornecem informações que podem ser reinterpretadas no futuro à medida que a ciência evolui. Assim, mesmo quando não há resposta imediata, os resultados incertos ampliam o conhecimento científico e mantêm abertas novas possibilidades diagnósticas para os pacientes.
- Valor diagnóstico e desafios: reforça a importância do exoma em capturar variantes patogênicas, destacando a necessidade de bancos de dados mais representativos para populações miscigenadas como a brasileira.
- Insights para outros laboratórios: fornece subsídios práticos para integrar o exoma ao cuidado clínico, defendendo investimento em infraestrutura e capacitação para interpretar variantes de forma confiável.
Avanços e perspectivas no Brasil
A aprovação da cobertura do exoma pelos planos de saúde, na diretriz de utilização técnica da ANS em 2021, ampliou o acesso a esse exame no país. "Cada modalidade de teste tem seu papel, mas o exoma se destaca por acelerar diagnósticos e reduzir o sofrimento do paciente, permitindo decisões médicas mais rápidas e precisas”, afirma dr. Yamamoto.
O futuro aponta para o Sequenciamento Completo do Genoma, capaz de analisar todo o DNA humano, e para exames de triagem genética neonatal, ampliando a detecção precoce de condições tratáveis desde os primeiros dias de vida.
