De volta aos palcos: paciente do INTO retorna ao balé após amputação causada por câncer ósseo

 História de Kamilly reforça importância do diagnóstico precoce da doença

Divulgação INTO

O retorno ao balé tem um significado especial para a pequena Kamilly Vitória, de 12 anos. Diagnosticada com osteossarcoma, um tipo raro de tumor ósseo que atinge principalmente crianças e adolescentes, Kamilly não acreditava que voltaria a dançar após a amputação da perna direita. Recentemente, a jovem bailarina, em tratamento no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO), subiu ao palco novamente e emocionou a todos.

A história de Kamilly chama atenção não apenas pela superação, mas também por um importante alerta: o diagnóstico precoce faz toda a diferença no tratamento do câncer ósseo. Apesar de raro — representando cerca de 2% de todos os tipos de câncer no Brasil — esse tipo de tumor é altamente agressivo quando identificado tardiamente. Foi o que aconteceu com Kamilly.

Os primeiros sintomas surgiram ainda em 2023, com dores frequentes na perna direita e um leve inchaço. Durante meses, o quadro foi tratado como “dor do crescimento”. Somente em agosto de 2024, após uma queda na escola, ela realizou o primeiro raio-x, que revelou a presença de um tumor ósseo. Na sequência, passou por consulta em uma unidade básica de saúde e foi encaminhada ao Instituto Nacional de Câncer (INCA) para investigação e início do tratamento.

“Na hora foi desesperador. Quando a gente ouve a palavra 'tumor', já pensa no pior. E é um tipo de câncer que a gente quase não ouve falar. Eu nunca tinha escutado falar de osteossarcoma antes, ninguém sabe explicar exatamente de onde vem, por que aparece. E isso assusta ainda mais”, conta Camila Henrique da Silva, mãe da adolescente.

Em novembro de 2024, Kamilly passou por uma cirurgia de ressecção e aloenxerto ósseo no INTO. Mas, diante da gravidade da lesão, que já provocava ausência de sensibilidade na perna, a equipe médica indicou a necessidade de amputação, realizada no mês seguinte, em dezembro.

O chefe da Oncologia Ortopédica do INTO, Walter Meohas, explica que não há como prevenir esse tipo de câncer, mas as chances de cura são maiores quando a doença é identificada em seu estágio inicial.

“Quanto mais cedo o câncer ósseo for diagnosticado, menor será o volume tumoral, o que melhora o prognóstico tanto em relação à sobrevida do paciente quanto à preservação do membro acometido pelo tumor”, destaca o médico.

No caso de Kamilly, o tumor afetou a tíbia, mas a doença também pode acometer, com frequência, o fêmur e o úmero — ossos longos que se desenvolvem rapidamente durante a infância e adolescência. Os sintomas mais comuns incluem dores constantes nos ossos, inchaço ou sensibilidade nas articulações com aumento da temperatura local e, em estágios mais avançados, fragilidade óssea, que pode levar a fraturas espontâneas.

“É fundamental que pais e responsáveis estejam atentos e valorizem as queixas de dor nas crianças, especialmente quando são persistentes, localizadas e não melhoram com repouso ou analgésicos”, alerta Meohas.

A causa específica do câncer ósseo, tanto em crianças quanto em adultos, ainda é desconhecida. “O que se acredita é que a história genética do paciente pode estar diretamente relacionada ao desenvolvimento desses tipos de tumores", esclarece o especialista.

A dança como motivação para o tratamento

Durante a internação no CTI pediátrico do INTO, Kamilly enfrentou momentos delicados, especialmente no pós-operatório, quando passou a ter crises de ansiedade causadas pelo medo de não voltar a dançar. Uma figura importante nesse processo foi a enfermeira Zorahyde Pires, que criou um vínculo especial com a menina.

Para o aniversário de Kamilly, a enfermeira, em parceria com a equipe, preparou uma homenagem surpresa: com o apoio da mãe e da escola de balé, reuniram vídeos dos colegas enviando mensagens de incentivo e motivação.

“O efeito foi imediato. No dia seguinte, Kamilly levantou com as muletas pela primeira vez e começou a treinar a marcha. Foi um momento emblemático. A gente viu a virada acontecer ali”, conta Zorahyde.

Em junho deste ano, Kamilly voltou a se apresentar no mesmo festival de balé em que esteve no ano anterior, antes da amputação. A reapresentação foi marcada por lágrimas, aplausos e emoção. “Foi a coisa mais linda que já vi na minha vida. Eu não conseguia nem filmar, só chorava”, relata a mãe.

Mesmo enfrentando a quimioterapia, que deve seguir até outubro, a adolescente já faz planos para participar do espetáculo de fim de ano da escola de dança. “É ela que me dá força todos os dias, porque tem uma força que é surreal”, celebra a mãe, emocionada.



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