Mestrado em Matemática Aplicada da FGV EMAp impulsionou carreira de João Carabetta, atual chefe executivo de tecnologia da capital fluminense e presidente do IplanRio
Uma greve foi a responsável por mudar os rumos do então jovem universitário João Carabetta, hoje chefe executivo de tecnologia da cidade do Rio de Janeiro e Presidente do IplanRio, empresa municipal responsável pela tecnologia e inovação digital da cidade. Em 2015, cursando Física em uma instituição pública e já se preparando para o mestrado, João se juntou aos colegas e fundou o Transparência Unicamp, um coletivo que buscou entender, com dados, o que a greve questionava e qual era, afinal, o tamanho do corte orçamentário.
A inquietação o levou a realizar entrevistas com técnicos de orçamento e finanças dentro da administração da universidade, analisar dados e planilhas e a se aprofundar em políticas públicas. Com isso, ele despertou interesse na área e descobriu que análises bem feitas podiam qualificar o debate público e melhorar decisões. “Percebi que qualquer coisinha que eu fizesse com dados já teria impacto real no serviço público”, lembra.
No lugar do mestrado em Física, João escolheu aprimorar suas habilidades de programação com a intenção de trabalhar com dados como forma de melhorar a vida nas cidades. À época, havia uma tendência emergente de ciência de dados e "big data" e, pesquisando Carabetta descobriu que a Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp) oferecia um mestrado moderno em modelagem matemática, além de ter forte conexão com projetos reais.
“Foi essencial ter entrado na FGV EMAp pois enquanto fazia as disciplinas, eu atuava em projetos de política pública no Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS-FGV), ligado ao curso de Direito da instituição, publicando análises na imprensa incluindo o projeto Congresso em Números, que envolveu análise de dados do Congresso Nacional”, conta.
João lembra ainda que enquanto estava no CTS foi a primeira pessoa do mundo a capturar dados do Waze para entender fenômenos urbanos, como fluxo de tráfego, enchentes e até mesmo a localização dos buracos. Orientado pelo professor Eduardo Fonseca Mendes, sua dissertação de mestrado intitulada Mining jams into pollution: how Waze data helps estimating air pollution in large cities, se concentrou no uso de dados do Waze para projetar a poluição atmosférica, em especial a concentração de poluentes finos (PM2.5), partículas microscópicas que penetram mais fundo no sistema respiratório e estão entre as mais nocivas à saúde humana.
“A ferramenta que eu criei tem um detalhamento mais micro e consegue estimar que locais de cada cidade do mundo emite mais gás carbônico”, explica.
A pesquisa acabou recebendo menção honrosa na FGV EMAp e o alicerçou para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), onde trabalhou por quase um ano e meio. Lá, a equipe adotou a abordagem baseada em dados do Waze que ele havia desenvolvido para avaliar o impacto de intervenções urbanas como rodízio de veículos em Lima à construção de pontes em Buenos Aires, entre outros projetos.
Em paralelo, João ajudou a tirar do papel a Base dos Dados, organização que reúne e disponibiliza grandes bases públicas em infraestrutura na nuvem, hoje referência nacional em dados abertos.
“É o sonho de todo mundo que trabalha com dados públicos ter um lugar que concentre todas as bases. O grande desafio sempre foi o alto custo de manutenção desses bancos e a dificuldade de garantir acesso gratuito a muitos usuários. A solução encontrada foi usar o BigQuery, que organiza os dados em um formato pronto para uso. Neste modelo, o custo de consumo é pago pelo próprio usuário e como o Google oferece 1 TB de uso gratuito por mês, a maioria das pessoas consegue acessar os dados sem custo, o que tornou o sistema viável e resolveu o problema de escala”, relata.
Como os dados viram serviço público
De volta ao Brasil, João começou como chefe de dados da Secretaria de Transportes do Rio, passando depois para assumir a gestão de dados de toda a prefeitura e, em 2025, chegou ao comando da IplanRio. Na administração, atuou para criar o Escritório de Dados (2021), que integra informações de mais de 20 secretarias e alimenta um datalake que é usado em decisões do dia a dia, desde verificar a presença escolar ao funcionamento da rede de saúde, passando por segurança urbana e serviços ao cidadão. Em maio de 2025, esse repositório somava mais de 4,7 bilhões de registros. E o impacto dessa transformação digital pode ser sentido em projetos como:
- Transporte: o monitoramento por GPS de toda a frota permitiu acompanhar rotas e frequência quase em tempo real. O sistema dá transparência ao subsídio de ônibus e inibe descumprimentos contratuais.
- Saúde: a unificação de sistemas colocou, numa mesma tela, histórico clínico, exames e atendimentos do paciente, informação que antes ficava espalhada.
- Segurança e operações: leituras de radares e câmeras ajudam a identificar padrões anômalos e suportar ações de campo; modelos de previsão e visão computacional detectam alagamentos e bloqueios, gerando alertas ao Centro de Operações
A equipe que começou com apenas 2 pessoas, que incluía outra egressa da FGV EMAp, Fernanda Scovino, hoje soma 50 pessoas, que estão espalhadas por todas as secretarias da prefeitura. Foi João que pessoalmente que contratou e treinou a equipe.
“Fizemos uma evolução silenciosa e hoje conseguimos distribuir capacidade pelas secretarias, garantindo que os projetos saiam do papel e sobrevivam”, resume João.
Esse trabalho foi recentemente reconhecido pelo Google Cloud, que destacou o Rio de Janeiro como um dos principais exemplos globais de uso estratégico de dados para aprimorar serviços públicos. A capital fluminense foi citada ao lado de referências como a NASA, a Força Aérea dos Estados Unidos e os governos do Reino Unido, Holanda e Finlândia.
Para João Carabetta, a superação dos desafios de comandar a tecnologia da cidade são superáveis graças à maneira de pensar que desenvolveu durante o mestrado. Ele credita à formação em Matemática Aplicada da FGV EMAp a capacidade de estruturar problemas complexos, enxergar soluções criativas e, principalmente, não se intimidar diante de obstáculos grandes ou múltiplas variáveis. “A Matemática Aplicada me deu uma caixa de ferramentas poderosa. É isso que permite encarar situações cheias de incertezas e encontrar um caminho possível”, afirma.
Essa forma de raciocinar, explica, faz diferença tanto em negociações políticas quanto na gestão de equipes e na implementação de sistemas de larga escala. “Às vezes, você é a pessoa mais inteligente da sala não por saber mais, mas porque aprendeu a olhar para os problemas de maneira diferente”, diz.
De acordo com ele, quem se forma em matemática aplicada sai “muito à frente” de outros profissionais que tentam migrar depois para a área de dados, já que carrega uma base sólida e versátil.
“O mercado está doido por esse perfil. Inclusive, nós estamos com vagas abertas, especialmente para dados, engenharia, produto e operações digitais”, afirma o dirigente do IplanRio.
Inscrições abertas para a pós-graduação
As inscrições para os cursos de pós-graduação da FGV EMAp estão abertas até 30 de setembro. A Escola oferece programas de Mestrado e Doutorado em Matemática Aplicada e Ciência de Dados, voltados para quem deseja se aprofundar na pesquisa, na modelagem matemática e em aplicações inovadoras nas mais diversas áreas.