Por Kevin Leyser*
Há flores que só se abrem devagar. A infância é uma delas. Quando apertamos o botão “pular anúncio” da vida, trocamos o encantamento pela métrica, o brincar pelo brand.
Chamamos de “adultização” essa pressa: códigos adultos chegando cedo demais — a sexualização que ensina o espelho a vigiar, a parentificação que entrega às mãos miúdas a agenda da casa (e do feed), o viés que tira a infância de meninas negras ao enxergá-las “fortes” demais para o colo. É um fenômeno de muitos fios: família, escola, plataformas, publicidade, dados, raça.
Os números ajudam a ver o bosque: a TIC Kids Online Brasil 2024 mostra que mais de nove em cada dez jovens de 9 a 17 anos já vivem online, a maioria com perfil próprio e uso diário; uma parcela expressiva entra em contato com desconhecidos, relata ofensas e testemunha discriminações. É o mundo real — só que do tamanho da palma da mão.
A ciência fala com calma: as associações entre redes e tristeza/ansiedade são pequenas, porém consistentes; pequenas no indivíduo podem ser grandes em milhões. Mais do que “quanto tempo”, importam o como e o para quê. Em saúde pública, autoridades internacionais reforçaram em 2025: ainda não é possível afirmar que o ambiente digital seja “seguro o bastante” para crianças e adolescentes — mitigações sérias são necessárias.
Há também o cérebro que cresce ao calor de vínculos: quando faltam braços estáveis e sobram estressores — o que chamamos de estresse tóxico —, sistemas de estresse se desorganizam e a arquitetura cerebral pode ser afetada. O mundo digital, se mal mediado, vira ventania constante. A boa notícia? Relações cuidadoras amortecem. No fundo, sempre foi sobre quem segura a nossa mão enquanto olhamos a tela.
Do lado do direito, não é moralismo — é norma: o ECA trata crianças como sujeitos em desenvolvimento e exige alvará judicial quando há finalidade econômica na participação em conteúdos, espetáculos e congêneres; a Resolução Conanda 163/2014 considera abusiva a publicidade dirigida à criança; o STJ consolidou esse entendimento; e a LGPD (art. 14) impõe o princípio do melhor interesse e salvaguardas para dados infantis. No exterior, avança a segurança por design com garantia/estimativa de idade: a meta é que serviços digitais nasçam respeitando direitos e necessidades de crianças e adolescentes.
O que fazer sem cair na histeria? Cinco cuidados de quem prepara o solo antes da flor:
- Mediação qualificada: adiar o smartphone próprio, definir limites, conversar semanalmente sobre corpo, consentimento, dinheiro e redes;
- Segurança por design e garantia/estimativa de idade: menos empurrão de conteúdo sexualizado, mensagens diretas (DMs) desativadas por padrão em contas infantis, verificações proporcionais e não discriminatórias;
- Alfabetização midiática e sexual: virar o espelho para dentro: menos vigilância do corpo, mais autocuidado e pensamento crítico;
- Recorte antirracista: nomear o roubo de infância de meninas negras e revisar protocolos na escola, na saúde, na justiça e na imprensa;
- Conformidade legal: alvará quando houver monetização; publicidade infantil é abusiva; dados tratados sob o melhor interesse.
Rubem Alves dizia que educar é “mostrar a beleza do mundo”. Talvez nosso trabalho, agora, seja diminuir o ruído para que essa beleza volte a ser audível. A infância não é conteúdo. É direito — e o que ele protege, como as flores, precisa de tempo.
*Kevin Leyser é Ph.D. em Educação, coordenador dos cursos de Filosofia e de Ciência da Criatividade, ambos na UNIASSELVI, psicólogo, filósofo, teólogo e autor.
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