Pesquisa revela que alimentos ultraprocessados representam quase 50% das compras do brasileiro no supermercado

 Estudo da Rock Encantech também aponta que consumidor prioriza cerveja ao leite; responsável pela Nutrição da Conexa explica más escolhas e faz alerta

Foto: Divulgação

Rock Encantech, referência em ciência do consumo e comportamento de clientes no varejo, realizou um levantamento focado no desempenho do varejo alimentar no Brasil durante o primeiro semestre de 2025. Um dos insights mais importantes da pesquisa, que analisou 770 milhões de transações e 44 milhões de domicílios em todo o país, foi de que o brasileiro continua com uma alimentação pouco nutritiva. 

Apesar do aumento no preço médio no varejo alimentar (+8,2%), os alimentos ultraprocessados representam 48% dos 25 produtos mais consumidos no período analisado. Em relação ao primeiro semestre de 2024, o estudo registrou altas nos valores de salgadinhos (+18,3%), macarrão instantâneo (+8,3%), biscoitos industrializados (+6,5%) e refrescos em pó (+5,2%), enquanto produtos como feijão (-20,9%), arroz (-14,8%) e frutas, legumes e verduras (-12,5%) sofreram quedas. Confira a lista dos alimentos mais consumidos e respectivas variações de preço:

  1. Frutas, legumes e verduras (-12,5%)
  2. Cerveja lata até 550ML (+7,6%)
  3. Carnes e aves (+28,8%)
  4. Biscoitos industrializados (+6,5%)
  5. Leite 1L (+10,8%)
  6. Água mineral garrafa até 510ML (+6,7%)
  7. Refresco em pó 8G a 35G (+5,2%)
  8. Sabonete (+3,3%)
  9. Óleo soja (+28,8%)
  10. Creme de leite 200ML (+5,9%)
  11. Detergente 500ML (+7,4%)
  12. Molho de tomate 200G a 340G (+4,2%)
  13. Macarrão 500G (+5%)
  14. Bebida láctea 200ML (+7,3%)
  15. Leite condensado 395G (+16,6%)
  16. Macarrão instantâneo (+8,3%)
  17. Pães industrializados (+10,4%)
  18. Feijão 1KG (-20,9%)
  19. Suco caixinha (+12,1%)
  20. Frios KG (+20,5%)
  21. Arroz 1KG (-14,8%)
  22. Floco de milho (-2,3%)
  23. Açúcar refinado 1KG (-0,1%)
  24. Salgadinhos até 80G (+18,3%)
  25. Café em pó (+87,2%)

Para Danielle Toledo, curadora e responsável pela Nutrição da Conexa, maior ecossistema digital de saúde física e mental do Brasil, a lista é um reflexo direto das condições sociais, econômicas e culturais do país. “É como se estivéssemos construindo nossas refeições a partir do que é mais rápido, barato e viciante, não do nutritivo. Enquanto isso, leite e proteínas magras estão mais caras, perecíveis e inacessíveis, o que também prova que não se trata apenas de uma questão de ‘preferência’”, diz.

Riscos para a saúde

Pelo alto teor de sódio, açúcar, gordura e aditivos artificiais, os alimentos industrializados e ultraprocessados são conhecidos por impactarem o organismo de forma negativa quando consumidos em excesso. Dentre os riscos, estão aumento da obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até certos tipos de câncer.

Esses problemas também já são identificados em diversos estudos. Por exemplo, uma pesquisa publicada no American Journal of Preventive Medicine, encabeçada pelo pesquisador Eduardo Fernandes Nilson, do Nupens/USP e vinculado à Fiocruz, destaca que a cada aumento de 10% de ultraprocessados no dia a dia, o risco de morte se eleva em 3%. Já uma investigação divulgada pela Revista Epidemiologia e Serviços de Saúde, conduzida por pesquisadores da UFMG e da UERJ, revela que mulheres com uma alimentação mais saudável apresentam chances 28% e 31% menores de ter obesidade e depressão do que aquelas que consomem ultraprocessados em maior quantidade.

Danielle ainda ressalta que outro problema desse tipo de alimento é a sua composição com sabores e texturas que estimulam o consumo excessivo e dificultam a saciedade. “É como se fossem feitos para a pessoa não parar de comer. Isso gera custos silenciosos que vão se intensificando, como fome precoce, menor rendimento escolar e, futuramente, gastos com remédios e consultas médicas”, pontua.

Dicas para uma alimentação equilibrada

Pensando em ajudar a transformar os carrinhos de boa parte dos consumidores brasileiros, a especialista da Conexa listou as seguintes recomendações:

  • Mude uma escolha por semana, apostando em trocas simples e consistentes; 
  • Vá ao mercado com intenção, não com pressa;
  • Saia de casa com uma lista e pense em refeições completas;
  • Priorize alimentos com poucos ingredientes, frescos e versáteis, como mandioca, frango e peixe;
  • Evite corredores de ultraprocessados;
  • Troque refresco em pó por suco natural com frutas da estação;
  • Substitua salgadinhos por pipoca feita em casa com pouco óleo;
  • Substitua macarrão instantâneo por macarrão comum com legumes refogados e ovo;
  • Invista em feiras, produtos a granel e aproveitamento integral dos alimentos;
  • Prepare as refeições em casa.

Outro ponto destacado por Danielle é a busca pela educação alimentar. “A população precisa saber como ler rótulos, planejar cardápios, escolher com consciência e cozinhar com autonomia. Por isso, além da iniciativa individual, devemos tornar essa causa coletiva, especialmente nas escolas, unidades básicas de saúde, redes sociais, centros comunitários e no mercado como um todo”, finaliza.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem