Setembro Amarelo: 73% das mães têm alterações emocionais sem diagnóstico no Brasil

 Saiba por que a gestação e o pós-parto são o período de maior risco para a saúde mental feminina; 'Romantizar a maternidade atrasa o cuidado e coloca mães e bebês em risco', diz psicóloga perinatal

Freepik

Esse mês é marcado pela campanha Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio. Entre os grupos de maior vulnerabilidade estão gestantes e puérperas, período considerado o de maior risco da vida da mulher para problemas de saúde mental, acima da adolescência ou do climatério.

Segundo estimativas do Instituto MaterOnline, 73% das alterações emocionais maternas não são diagnosticadas no Brasil. O dado preocupa porque o suicídio já é a segunda principal causa de morte no puerpério. O país registra cerca de 2,8 milhões de nascimentos por ano; ao menos 2 milhões de mães apresentam ansiedade, estresse ou depressão na gestação ou após o parto, mas 1,4 milhão seguem sem acompanhamento adequado.

Por que tantas mães ficam sem diagnóstico?

De acordo com a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, professora-doutora e fundadora do Instituto MaterOnline, as falhas de diagnóstico estão ligadas a quatro fatores principais:

  • Falta de especialistas: menos de 1% dos psicólogos têm formação em Psicologia Perinatal.
  • Romantização da maternidade: pressão para que mães estejam sempre felizes.
  • Despreparo profissional: faculdades raramente abordam o período perinatal.
  • Ausência de protocolos específicos: sem triagem adequada, sintomas passam despercebidos.

"Quando a mulher ouve que deveria estar feliz, mas sente tristeza, medo ou irritabilidade, ela se cala. Esse silêncio custa caro, pode levar a depressão grave e parto prematuro", alerta Rafaela.

Quais são os riscos para mães e bebês?

Segundo Rafaela Schiavo, ignorar sinais de sofrimento emocional traz consequências graves. “O impacto não se limita à mulher. A saúde do bebê e até das próximas gerações pode ser comprometida”, explica.

Entre os principais riscos estão:

  • Suicídio materno, que já responde por 20% das mortes maternas no Brasil;
  • Maior chance de parto prematuro e de bebês com baixo peso;
  • Dificuldades no vínculo mãe-bebê, que podem afetar o desenvolvimento infantil;
  • Ciclos de depressão que tendem a se repetir na família.

A psicóloga perinatal Rafaela Schiavo explica que pesquisas indicam que mulheres no período perinatal apresentam mais pensamentos de morte do que mulheres da população geral. Segundo ela, os riscos aumentam em situações específicas. “Gestantes que sofrem violência doméstica têm oito vezes mais chance de desenvolver esse tipo de pensamento, enquanto aquelas com transtornos mentais graves apresentam um risco 17 vezes maior”, afirma.

O que a lei garante às gestantes

De acordo com Rafaela, 90% das mortes maternas poderiam ser prevenidas com acolhimento adequado. Desde 2024, a Lei 14.721 garante às gestantes o direito à assistência psicológica durante a gravidez, o parto e o pós-parto, tanto no sistema público quanto no privado. A norma está incluída no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No entanto, menos de 1% dos psicólogos brasileiros têm capacitação para esse atendimento, o que limita a efetividade da lei, aponta a psicóloga. 

“Não basta a lei existir se não tivermos profissionais preparados. Cada psicólogo capacitado tem o poder de transformar a vida de centenas de famílias. Com diagnóstico precoce e protocolos de rastreamento, é possível salvar vidas, reduzir partos prematuros e melhorar o desenvolvimento infantil”, afirma Rafaela Schiavo.



Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem