Exame DNA-HPV é mais eficaz do que Papanicolau

 Teste molecular permite detecção precoce do vírus causador do câncer de colo do útero e pode identificar risco da doença até dez anos antes

Foto: Freepik

Uma pesquisa do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) revela que o teste de DNA-HPV detecta quatro vezes mais lesões pré-cancerígenas do que o Papanicolau. 

O estudo acompanhou 20 mil mulheres durante 30 meses e encontrou 21 casos de câncer de colo do útero usando o método molecular, sendo 67% deles em estágio inicial. O Papanicolau identificou apenas 12 casos, sendo 11 já avançados.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o exame molecular como método primário de detecção do papilomavírus humano. A entidade considera o teste mais sensível para identificar lesões pré-cancerígenas e reduzir mortes pela doença.

Oito em cada dez pessoas contraem HPV durante a vida e, na maioria dos casos, o sistema imunológico elimina o vírus. Quando ele persiste, provoca crescimento anormal de células, que pode evoluir para câncer ao longo de anos.

Mulheres fazem o teste molecular, em média, aos 39,6 anos, contra a média de 49,3 anos relativa ao Papanicolau. Essa diferença de quase uma década também indica diagnósticos mais precoces. 

“O teste identifica, nas fases microscópicas, 80% dos cânceres que já existem e estão silenciosos. Antecipa o diagnóstico em dez anos”, declarou o pesquisador da Unicamp, Júlio César Teixeira, em entrevista para Drauzio Varella.

Coleta simples com tecnologia avançada

O DNA-HPV detecta o vírus antes que ele cause lesões, enquanto o Papanicolau identifica alterações celulares já estabelecidas. A coleta usa um swab (similar a um cotonete) para recolher material vaginal. Geralmente, profissionais de saúde fazem o procedimento durante o exame ginecológico de rotina, realizando uma “raspagem” do colo do útero para coletar células que, então, são transferidas para uma lâmina para serem avaliadas em um microscópio. 

Diferente do Papanicolau, que depende completamente da interpretação médica, o teste molecular baseia o rastreamento na presença ou ausência do vírus. O exame identifica qual subtipo específico do HPV está presente: os tipos 16 e 18 causam 70% das lesões precursoras de câncer, segundo o Conselho Federal de Enfermagem. 

Pacientes com esses subtipos de alto risco são encaminhados diretamente para a colposcopia. Casos complexos podem necessitar de tomografia computadorizada com contraste para avaliação detalhada das estruturas pélvicas e abdominais.

Intervalos maiores entre exames

Resultados negativos do DNA-HPV permitem intervalo de cinco anos até o próximo teste, o que é considerado um avanço, levando em conta que, atualmente, é rara a aplicação anual do exame citopatológico em mulheres de até 30 anos.

A maior sensibilidade do teste molecular justifica intervalos estendidos. O exame detecta presença viral antes de qualquer alteração celular, permitindo acompanhamento com menos consultas. 

Os laboratórios também processam resultados do DNA-HPV mais rapidamente do que o Papanicolau: enquanto o método tradicional demora dois a três meses devido à análise manual por especialistas, o teste molecular usa processos automatizados. 

Grupos de risco precisam de atenção especial

Segundo a OMS, mulheres com HIV têm risco seis vezes maior de desenvolverem câncer de colo do útero. Elas apresentam infecções persistentes por HPV e progressão mais rápida para lesões pré-cancerosas. Nesses casos, o teste DNA-HPV detecta alterações precocemente.

O HPV causa quase 100% dos casos de câncer do colo do útero, terceiro mais comum entre as brasileiras. São 6,5 mil mortes anuais no país, uma a cada 90 minutos, segundo o Instituto Nacional do Câncer. 

A vacinação contra HPV está disponível para meninas e meninos de 9 a 14 anos, mas a cobertura vacinal permanece baixa. Os conselhos federal e regionais de enfermagem e medicina reforçam a importância dos pais vacinarem crianças e adolescentes na idade correta, antes do início da vida sexual, pois a vacina é mais eficaz antes do contato com o vírus.




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