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Foto: Rodrigo Leal |
Recentemente, o Brasil sancionou a Lei Federal nº 15.100/2025, que proíbe o uso de celulares e outros dispositivos eletrônicos portáteis por estudantes durante o período escolar, incluindo aulas, recreios e intervalos, em todas as escolas públicas e privadas da educação básica. A norma, válida para todo o território nacional, tem como objetivo proteger a saúde mental, física e psíquica de crianças e adolescentes, diante do uso excessivo de telas e da crescente preocupação com distração, isolamento social e cyberbullying.
Como professora, acompanhei com atenção a repercussão dessa medida. A princípio, confesso que tive dúvidas sobre sua efetividade. Afinal, o celular já está tão presente na rotina dos alunos que parece quase impossível imaginar a escola sem ele. Vi muitos estudantes reagirem com resistência, questionando a decisão e alegando que o celular também pode ser uma ferramenta de aprendizado. E eles têm razão, em parte.
A lei permite exceções para uso pedagógico, acessibilidade, inclusão e necessidades de saúde, mas estabelece que o uso recreativo está vetado. Além disso, determina que as escolas devem criar estratégias de acolhimento e prevenção ao sofrimento psíquico, incluindo espaços de escuta e treinamentos periódicos para lidar com os efeitos do uso imoderado de telas.
Um estudo atual feito pela Universidade de Stanford, conduzido pelo professor Guilherme Lichand, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, analisou o desempenho de 196 mil alunos do sexto ao nono ano em mais de 300 escolas. Os resultados são expressivos: 25,7% de melhora em matemática e 13,4% em português, o que equivale a um bimestre adicional de aprendizado em matemática. Esses dados me fizeram refletir. Será que a simples retirada do celular da sala de aula pode gerar um impacto tão significativo? Diretores e professores relatam mudanças positivas no ambiente escolar: mais interação entre os alunos, menos distrações, e até o retorno de brincadeiras e atividades coletivas nos intervalos. Estudantes também afirmam que passaram a se concentrar melhor em leitura, escrita e cálculos.
Apesar dos resultados animadores, acredito que devemos ficar alertas com a complexidade do fenômeno. O estudo levou em conta apenas os indicativos associados ao uso do celular, sem isolar outras variáveis que podem ter influenciado nos resultados, como mudanças na metodologia de ensino, reforço escolar, campanhas de conscientização ou o próprio efeito psicológico da novidade.
Dessa forma, como docente, acredito que a proibição dos celulares nas escolas trouxe resultados positivos, mas não pode ser vista como solução única ou definitiva. A tecnologia, quando bem utilizada, pode ser uma aliada da educação. O verdadeiro desafio está em equilibrar o uso consciente dos dispositivos com práticas pedagógicas que sejam efetivas.
O celular fora da sala de aula pode ser um passo, mas o caminho exige mais formação docente, mais infraestrutura, mais educação digital e mais políticas públicas que respeitem a complexidade da escola contemporânea. E, acima de tudo, exige escuta ativa dos alunos, diálogo com as famílias e construção coletiva de uma cultura escolar que valorize o foco, a convivência e o aprendizado significativo.
*Graziele Aparecida Correa Ribeiro, Mestra em Ensino de Ciência e Tecnologia pela UTFPR e professora Matemática e Física dos cursos de Exatas da Escola Superior de Educação, Humanidades e Línguas no Centro Universitário Internacional Uninter